quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

*Deus

(Discurso no Colégio Anchieta)

Rui Barbosa*

Grande é a ciência, bem o creio; é a maior de todas as grandezas; mas abaixo da outra: a divina, que lhe há de sobrepairar eternamente. Deixem-me clamar assim ao menos aqui, neste suave abrigo do espírito, a minha convicção, último fruto que me estende sazonado a árvore da vida: não sei conceber o homem sem Deus, e ainda menos acreditar na possibilidade, atual ou vindoira, de uma nação civilizada e atéia. Envelhecerei na persuasão do velho Plutarco, imanindo menos a custo uma fortaleza sem alicerces que um povo sem Deus. Milhares de anos resvalaram por sobre esta verdade, milhares hão de resvalar, sem que ela desmaie.

Não alcanço o ponto de vista de Sirius. Mas no ponto de vista da humana razão, ao menos até onde ela coincide com a minha, Deus é a necessidade das necessidades. Deus é a chave inevitável do Universo, Deus é a incógnita dos grandes problemas insolúveis, Deus é a harmonia entre as desarmonias da criação. Incessantemente passam, e hão de passar no vórtice dos tempos, as idéias, os sistemas, as escolas, as filosofias, os governos, as raças, as civilizações; mas a intuição de Deus não cessa, não cessará de esplender, através do eterno mistério, no fundo invisível do pensamento, como o mais remoto dos astros nas profundezas obscuras do éter. A realidade suprema, de onde nos cai perenemente esse raio de luz, é inextinguível. Mas de tão longe nos vem ele na imensidade do existir, que, ainda quando momentaneamente lhe pudéssemos supor apagado o foco remotíssimo, primeiro pereceria a humanidade que deixasse de ver aceso na estrema do horizonte esse ponto luminoso.

*Textos escolhidos, série "Nossos Clássicos", Agir Editora, 2ª edição, 1968

 
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Sobre Jesus

Cristo incomodava demais os líderes religiosos da época que pretendiam ser os detentores da verdade teológica (...) no sermão do monte, Jesus amplia a visão do relacionamento e da comunhão com Deus para além dos limites da liturgia, dos sacrifícios (de animais*), dos cerimoniais e do sacerdócio, esclarecendo que o verdadeiro sentimento religioso nasce de um coração quebrantado, da fé manifestada nos gestos e da pureza das nossas intenções (...) os ensinos do sermão do monte propiciam o alargamento da nossa visão no que se refere aos valores do reino de Deus essencialmente diferente dos valores do reino dos homens. Isso porque o Cristianismo é, antes de tudo, um desafio à nova vida, à nova mentalidade, ao novo andar, ao novo comportamento, às novas opiniões e aos novos sentimentos. É um desafio para que adotemos um novo caminho enquanto tanta gente vaga nos descaminhos de uma sociedade doente e decadente.
*nota do blog

Autor: Carlos César Peff Novaes, Pr.

Jesus não ensinou nenhuma nova lei, nenhuma técnica de piedade e não tinha nenhuma inclinação para a casuística moral ou jurídica e para todas as questões da interpretação da lei (lei mosaica*), Ele anunciou uma nova liberdade em face da legalidade: o amor sem limites.
*nota do blog

Autor: Hans Kung

Um comentário:

  1. Não li estes textos de Nietzsche onde ele declara a morte de Deus, apenas li o livro "Além do Bem e do Mal" onde ele 'desce a lenha' nas mulheres dedicadas ao conhecimento científico, na 'plebe' e em instituições. Aliás ele era aristocrático, anti-democrático (criticava o crescente avanço da democracia na Europa).E daí penso que se ele era aristocrático, não é incoerente o fato de execrar o Criador e por conseguinte a religião (repito, apenas li um de seus livros)sendo a aristocracia incompatível com o pensamento ateu?
    Quanto ao termo "Deus cristão" não poderia ser diferente , visto que o pensamento ocidental está diretamente associado ao cristianismo e tudo aquilo que ele representa . Penso que é impossivel dissociar o "conceito de Deus" de referenciais culturais-a própria palavra" Deus" está associada à cultura, visto que para exprimí-la usamos a língua, produto notadamente cultural.
    O último parágrafo ficou ininteligível para mim. Não sei se o autor quis comparar Deus com o oxigênio presente em todos os cantos da Terra. Disse que as pessoas deveriam ver que o oxigênio que respiram não é cultural.Não é cultural, é científico (refiro-me à sua constatação).E não é 'natural', visto que está poluído em certos lugares. Assim como não são 'naturais' todos os partos executados, nem são 'naturais' todos os bebês que nascem (alguns tem Dawn, outros são hermafroditas, outros paralisia cerebral,entre outros problemas ).E por não serem tão 'naturais' assim seriam reflexos menores da existencia de Deus?Não seria mais racional (heresia, associar Deus ao racional...) numa escala de juízos chegar-se a Deus através do 'oxigênio'?.Como começou o universo? Quem o fez? aonde estão estas perguntas? O autor afirma que Deus não é cultural.Mas não é cultural a imposição na crença em Deus?(assim como seria a pressão exercida pela Inquisição - sob pena capital-para que Galileu negasse a constatação de que a Terra gira em torno do Sol?))
    Enquanto gastamos energia desmentindo Nietzsche e afirmando que Deus não está morto (provavelmente não, perdoe-me a petulância na constatação) esquecemos de comunicar isso aos fundamentalistas-terroristas, aos líderes religiosos que manipulam o povo como gado, aos contrários à fraternidade para com aqueles que descordam / não professam as mesmas idéias que nós...

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