sábado, 2 de junho de 2012

Sobre a homofobia

A nossa mente, geralmente, restringe o nosso entendimento e consequente interpretação das coisas percebidas. Não percebemos, na maioria das vezes, em amplitude por causa da limitação do que se apresenta, na sua forma, que não nos permite de logo discernir o seu conteúdo e a extensão da sua proposta e nuances. E isso é perfeitamente normal, visto que somos sempre limitados ao formato estático do que se nos apresenta.

A frase delineada em anterior texto, por mim escrito, que diz: “Vai se chegar ao ponto de se obrigar um pai heterossexual a comprar roupas femininas para o seu filho adolescente com inclinação homossexual, em razão da lei contra a homofobia”, é um desses exemplos. Esta colocação está inserida no texto “A família esvaziada” onde defendo a legitimidade da família como imprescindível núcleo de edificante formação social, atualmente atingida pela equivocada ingerência de parlamentares o que tem trazido dificuldades aos pais na educação dos seus filhos, estabelecendo na família uma relação meramente assistencialista. Nela, somente obrigações para os pais e direitos para os filhos.

Pois bem, primeiramente, o que é homofobia? Penso que é qualquer atitude contrária a dignidade da pessoa com preferência sexual por pessoas do mesmo sexo. E a atitude intolerante para com eles, realmente, deve ser considerada como algo errado de se praticar. Mas entendo também que qualquer pessoa que não entenda essa opção/propensão homossexual como “normal”, não deve ser considerado como homofóbico, já que essas pessoas têm uma “natureza” antagônica àquela. Mas o homossexual acha a relação heterossexual - embora contrária a que ele idealiza e lhe satisfaz -, absolutamente normal, poderia se dizer. Mas também se pode dizer que a relação heterossexual é a prática original, reprodutiva – dando continuidade a existência do ser humano -, e inter complementar no aspecto biológico. Por meio dessa relação, original e imperiosa, o próprio optante da prática sexual distinta dessa veio a existir.

A psicanálise ensina que não existe o repressor verdadeiramente, mas o reprimido. Não existe repressão real para quem não se sente reprimido, como não existe a ofensa para quem não se sente ofendido. Ora, não pode existir o perdão ou o ato de perdoar praticado por aquele que não se sentiu atingido por gesto, ação ou omissão de outrem. No tocante ao tema abordado aqui a ofensa se consumará quando a atitude de rejeição se der - de forma hostil - no plano concreto, físico, verbal, etc., não no plano ideológico. Afinal, como se propõe nessa apresentação, essas duas concepções da sexualidade são ideologias distintas, mesmo que fundamentadas em fatos não ideológicos.

Uma pessoa decente não maltrata ninguém simplesmente por sua diversidade cultural, social, étnica, religiosa, política, etc., nem pela sua “opção” afetiva e sexual. Em verdade os variados grupos dentre os segmentos sociais não se excluem mutuamente, mas se afirmam reciprocamente. Eu nutri afeto e amizade por vários optantes da vida sexual alternativa, no mesmo grau que nutri pelos mais caros integrantes da minha família. Sem, contudo, cauterizar a minha consciência no tocante à questão em tela, baseado nas Escrituras Sagradas. Isso porque os sentimentos existem na alma, que é alimentada pelo corpo. Já a consciência atua no espírito, que é superior. Quando, por meio de uma inexprimível dor, a alma desfalece até o reduto da morte talvez buscando descanso na luta contra a sua (da morte) obstinada e incessante transcendência, é o espírito quem levanta e firma essa alma no terreno sólido da razão que criou a fé, esperança fecunda dos viventes. O espírito, portanto, consegue edificar a razão pura por sobre o terreno fértil das inclinações latentes da alma.

Rui Barbosa nos deu uma indicação de onde buscaremos inspiração: “Não sei conceber o homem sem Deus, Ele é a chave inevitável do Universo, a incógnita das questões insolúveis. Deus não cessa de esplender no profundo do espírito como o mais resplandecente e remoto dos astros nas profundezas obscuras do éter. É a realidade suprema, de onde nos cai perenemente esse raio de luz inextinguível”.

A verdadeira beleza que eu vejo na questão ora tratada está no fato de que, mesmo diante do histórico direcionamento cultural e religioso de repúdio a homossexualidade, pessoas cuja conduta é divergente da homossexual venham a ter um relacionamento tão harmonioso e afetuoso com pessoas que assumem essa postura sexual alternativa à natural. O homossexual homem, por exemplo, consegue, muitas das vezes, imprimir um sentimento de afetuosidade e solidariedade humana naqueles que não comungam da mesma prática erótica. Isso porque, geralmente, transmitem uma impressão de despojamento pessoal (aspiração de muitos), vulnerabilidade, “fraqueza” moral (não propriamente deficiência moral) e vocação de prestativo confidente. Às vezes, por não se sentirem socialmente aprovados submetem-se a um papel submisso nas relações de amizade com conservadores ou em segundo plano na relação com o homossexual ativo. Alguns, por outro lado, sofridos, realizavam-se na anarquia acintosa como forma de revanchismo antissocial.

Em vista de ser inaceitável qualquer atitude ofensiva à pessoa que adota práticas homossexuais, torna-se humanamente belo que pessoas que chegam até a achar repugnante a interação sexual macho/macho e fêmea/fêmea defendam a dignidade de sua condição humana e cidadã, não como um favor, mas como um direito inato.

Alberto Magalhães