As revoluções culturais procuraram
desmontar a ideia predominante da divindade a governar o universo. Começavam
assim as eras que trouxeram a prevalência das ciências, da política, do
conhecimento e do progresso tecnológico. O homem no centro do mundo. Deus
ausente, distante. Ou morto como queria Nietzsche. Chegamos ao tempo da pós-modernidade
que, segundo Georges Benko, “valoriza o relativismo e a pluralidade cultural,
cuja propensão é se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas e das
telecomunicações; falência das metanarrativas emancipadoras como liberdade,
igualdade e fraternidade; mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho,
eclipse da historicidade, e onipresença da cultura narcisista de massa.
Predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, do efêmero, do fragmentário,
do descontínuo. Mudam-se valores para o novo, o transitório, o efêmero, o fugidio,
o fugaz, onde tudo é descartável, criando um mundo caótico. A publicidade
manipula desejos, promove o individualismo, a sedução, cria novas imagens e
signos....”
Em verdade, num resumo, essas novas
ordens falharam com relação ao ser humano moral, aumentando a iniquidade no
planeta. As ciências humanas ofereceram novas opções em superação ao “ópio
espiritual” que existia há milênios nas sociedades. Uma nova proposta de
sublimação para a “redenção” do homem angustiado. Houve assim o esvaziamento da
transcendência e da ética quando se instituiu a negação de DEUS. O homem agora rejeita
a profundidade de si mesmo, que o fazia buscar a sua própria essência e a
origem do mundo. Emancipou-se diante das narrativas históricas e divaga por
teorias mirabolantes e experiências superficiais, ficando perdido entre tantos
conhecimentos inócuos e a saudade do velho homem. Enquanto ele mais exalta a
si, mais se esvai de sentido e se decepciona consigo mesmo. Quanto mais
conhecimento tem, mais percebe a suas limitações, sua finitude e sua
insignificância em si mesmo. Esse homem que agora procura um deus tecnológico
para reger o mundo, capaz de lhe fornecer segurança contra os fenômenos
naturais, proteção contra as pragas da lavoura, defesa contra as doenças e uma vida
longa em verdade constituiu a si mesmo um deus criador.
E não conseguiu mudar nada ao seu
redor. Ao contrário, a degradação global e a desagregação social aumentaram, as
mazelas mudaram de nome, de locais e de grupos. A tecnologia nunca o satisfará
plenamente, pois ela não é a sua pessoa, ela é um ser separado, fragmentado e
dependente do seu criador. Ela não é e nem o faz onipotente, onisciente e
onipresente, como o deus que ele queria ser ou fabricar. Para o homem, o início
e o fim em si mesmo é algo frustrante. As suas limitações, isto é, a sua
capacidade de interagir com os mistérios sem respostas e os fenômenos, ainda
que com toda a sua tecnologia, é frustrante. O indivíduo é insignificante
perante o território espacial, o tempo e a história. A sublimação que o homem
procura não está nele mesmo. Toda construção precisa de uma base permanente,
nunca transitória como é a pessoa humana. Todos os projetos, que antes serviam para a realização
espiritual, ética, moral, social deram lugar ao interesse pelo sucesso
estritamente pessoal. Assim, o mundo não mudou para melhor. O vazio existencial
não pode ser preenchido com as exteriores conquistas humanas.
Alberto Magalhães, autor.